A casa do tempo perdido...

Bati no portão do tempo perdido,
ninguém atendeu.
Bati segunda vez e mais outra e mais outra.
Resposta nenhuma.
A casa do tempo perdido está coberta de hera pela metade:
a outra metade são cinzas.
Casa onde não mora ninguém,
e eu batendo e chamando
pela dor de chamar e não ser escutado.
Simplesmente bater.
O eco devolve minha ânsia de
entreabir esses paços gelados.
A noite e o dia se confundem no esperar, no
bater e bater.
O tempo perdido certamente não existe.
É o casarão vazio e condenado.

Carlos Drummond de Andrade